Lina Bo Bardi completaria cem anos em dezembro de 2014. Poucos centenários são comemorados com as concepções do homenageado tão reconhecidas pela sua atualidade. No caso, mais do que foram enquanto vivia.
Durante seus últimos dez anos de vida, após a inauguração do SESC Pompeia em 1982, Lina abriu uma nova fase em sua carreira. Apoiada pelos seus jovens colaboradores, Marcelo Ferraz, André Vainer e Marcelo Suzuki, produziu projetos que apontavam para uma renovação da arquitetura brasileira, então um tanto acomodada pela falta de oxigênio cultural dos anos da ditadura.
Após sua morte em 1992, o reconhecimento desses anos foi potencializado pelo Instituto Bardi, graças a suas exposições, publicações e presença na mídia. Lina tornou-se uma referência internacional. O século XXI, mais especificamente o pós crise de 2008, viu vários dos seus temas e posições tornarem-se pauta do debate sobre cultura, meio ambiente, patrimônio histórico e produção material da arquitetura e dos objetos.
Texto por Instituto Lina Bo e P. M. Bardi
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Exposição: senta, lina!
Como parte das comemorações do centenário da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, o C.A. da Cidade, em parceria com a Escola da Cidade, promoveram a exposição “senta, lina!”. Uma exposição feita por estudantes sobre cadeiras fala, sem dúvida, de alguma propriedade. Das seis horas e meia que se passa entre aulas e estúdio, a cadeira é mais inseparável do que a lapiseira. Dela, porém tiramos poucas conclusões.
Aqui estão reunidas algumas das peças projetadas por Lina Bo Bardi ao longo de sua carreira. Através delas, é possível, não só ver o percurso que a arquitetura trilhou com seu trabalho, mas também pensar junto com os colegas. Sem a pretensão de encerrar o assunto, os textos de 500 toques pretendem antes convidar para uma conversa. Um outro convite e para refletir sobre a ocupação do espaço no térreo da Escola da Cidade. Ao longo do trabalho de Lina Bo Bardi vemos a arquiteta estabelecer uma forte relação com a escala dos objetos projetados e pré-existentes, sejam eles cidades, edifícios, mobiliário ou pequenos artefatos.
Para construir essa exposição, procuramos entender o espaço que tínhamos e exercitar a disposição das cadeiras nele de forma a considerar suas particularidades e estabelecer relações entre elas. Esperamos estreitar a partir dessa experiência, a relação de nós alunos tanto com o trabalho dos arquitetos, como também da produção de uma arquitetura. Ambas, para além do estudo e da representação bidimensional. Por isso, suprimimos do discurso da exposição as vozes do desenho e do protótipo, e aproveitamos a oportunidade de ter objetos originais. Assim, empreendemos no esforço de tentar compreender esses reais, buscando outras possibilidades de mediação entre aquilo que se vê a maneira de interpretar.
A Escola da Cidade realizou também uma série de palestras com colaboradores e arquitetos próximos a Lina, abrangendo as diferentes vertentes da arquiteta.
Debate: André Vainer e Marcelo Ferraz
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Os arquitetos André Vainer e Marcelo Ferraz, a partir de sua convivência e colaboração com Lina Bo Bardi, contam histórias que ilustram como a relação da arquiteta com a cidade era diferente dos demais profissionais, sempre buscando materiais e técnicas locais e sendo fortemente influenciada pela situação política do momento. Apresentam também um pouco sobre a exposição “A Arquitetura Política de Lina Bo Bardi”, organizada pelos mesmos no SESC Pompéia.
É impressionante como parece que hoje é muito difícil fazer uma arquitetura essencial, simples, durável, de fácil manutenção
André Vainer é arquiteto e urbanista formado pela FAU-USP (1980). Foi sócio do escritório André Vainer e Guilherme Paoliello (1978 a 2009), que teve trabalhos premiados e destacados nas premiações do IAB de 2000, 2002 e 2004; Prêmio Master Imobiliário (2000); nas II, IV, VI e VII Bienais Internacionais de Arquitetura de São Paulo e na premiação Top XXI da revista Arc Design (2007). Atualmente é titular do escritório André Vainer Arquitetos e professor da Escola da Cidade, orientando alunos de TFG.
Marcelo Ferraz é arquiteto e urbanista formado pela FAU-USP (1978), é sócio do escritório Brasil Arquitetura, onde tem realizado vários projetos com premiações no Brasil e exterior. É também sócio fundador da Marcenaria Baraúna, onde desenvolve projetos de mobiliário, desde 1986. Foi colaborador de Lina Bo Bardi (1977 a 1992) e de Oscar Niemeyer (2002). Lecionou na Washington University in Saint Louis, EUA (2006) como professor convidado e na Escola da Cidade, em São Paulo, na disciplina de projeto.
Debate: Victor Nosek e João Bandeira
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Os convidados Victor Nosek e João Bandeira expõem o percurso que o trabalho de Lina Bo Bardi tomou desde sua vinda da Itália, apontando certas especificidades em seu processo de aprendizagem – como a troca de desenhos com seu pai – e a proximidade com as artes da época que deram a obra de Lina a sua singularidade, seja com o grafismo de seus desenhos lineares ou sua cenografia, como visto em Ubu Rei.
Então ela começa a fazer ilustração, tem muita coisa assinada como Bo e Pagani nessa fase. As vezes Bo, Pagani e Ponti, e as vezes eles três mais o pai dela a ponto deles terem uma espécie de pseudônimo chamado Genlica que é uma montagem das primeiras silabas de seus nomes. Estou destacando isso porque desde cedo […] fazer as coisas em conjunto parece um costume na vida da Lina. – João Bandeira
Fotografia, Captação e Edição de Vídeo Manuela Raitelli
Martha Levy
Morena Miranda
Pedro Norberto
Textos Instituto Lina Bo e P.M.Bardi
Exposição “senta, lina!”
Camila Régis
Martha Levy
Pedro Norberto